fbpx

Antes de mais nada, quero fazer um disclaimer: este artigo não tem uma visão religiosa ou doutrinária sobre espiritualidade.

Pode causar estranheza num primeiro momento abordar um tema como esse, tão transcendental, dentro de um ambiente profissional. Mas mesmo sem a gente se dar conta, muitas vezes, estamos ressaltando aspectos espirituais no nosso dia a dia. Quer um exemplo?

Já ouviu (leu ou falou) expressões tipo: “é preciso ter ‘espírito’ de equipe” ou “é preciso pôr a ‘alma’ no trabalho, trabalhar com o ‘coração’”?

Ao mesmo tempo, um paradigma foi criado: espiritualidade é coisa de gente religiosa. Eu, acho isso uma bobagem. E também por isso escrevi este artigo, que não é baseado em nenhuma religião, mas nessa inquietação, na minha vivência e estudos sobre o assunto.

Esse texto é a tradução de tantas coisas que acredito, impressas na realidade diária da gente, na esperança de jogar um pouco mais de luz sobre o tema.

Por que eu preciso me preocupar com minha espiritualidade?

Já observou que assuntos como propósito, bem estar, desenvolvimento pessoal e mindset vem ganhando destaque nos mais variados meios de comunicação? Em programas de TV, matérias de revistas, palestras, cursos e nas nossas conversas, esses temas vem sendo cada vez mais abordados.

E tudo isso tem a ver com espiritualidade.

Nós somos seres afetivos. A afetividade é o que nos permite demonstrar nossos sentimentos e emoções. Logo, tudo o que sentimos, amamos (ou não) e a maneira como nos relacionamos manifestado em palavras ou gestos, faz parte da nossa vida afetiva.

E dentro dessa esfera do nosso ser, está a espiritualidade,que é o conjunto de atitudes, crenças e práticas que nos ajudam a alcançar realidades mais sensíveis, relacionar-se com o transcendente, consigo mesmo, com o outro e com o mundo.

Então como vamos nos desenvolver enquanto pessoa, se desprezarmos algo que está em nossa essência e nos faz ser “gente”? É como alguém que vai na academia e só “malha” uma parte do corpo, apenas uma parte dos músculos se desenvolve.

Espiritualidade e Religiosidade

Aqui está algo que afasta muita gente da espiritualidade: a religiosidade.

Não entenda que eu estou falando mal de qualquer religião, também não é esse o ponto do texto, eu mesmo sou um religioso.

A relação entre essas duas realidades existe, porque as pessoas buscam as religiões como uma forma de viver a espiritualidade, mas quando entramos no aspecto religioso, entram coisas como doutrina, regras, hierarquias e práticas.

O que não podemos é “limitar” a vivência da espiritualidade a um conjunto de práticas.

A humanidade começou a perceber a espiritualidade bem antes da existência de muitas religiões que existem hoje. Platão e Aristóteles já falavam dessa dimensão da vida do homem.

Aqui está – na minha visão – a distinção entre as duas coisas:

Religiosidade é o fervor em cumprir as obrigações de uma religião. É algo intimamente ligado ao conjunto de crenças no divino, no sagrado.

Espiritualidade me leva a antes de “olhar para o céu”, para o divino ou sagrado, olhar para dentro de mim e ver o sentido de tudo o que eu faço, para onde apontam as minhas obras. E a partir daí, ela se transforma em atitudes, afinal, ela precisa da prática (seja essa prática religiosa ou não).

Não há um antagonismo entre as duas coisas, de maneira nenhuma, mas uma coisa não é sinônimo da outra. Se a religiosidade não me leva a uma mudança interior, nela não há espiritualidade.

Como falar de Espiritualidade sem falar de religião

Há mais de 10 anos, sou voluntário numa instituição religiosa. Nesse trabalho, lido diariamente com ações que visam o desenvolvimento humano, tanto social quanto espiritual, mas nem sempre lido com pessoas religiosas.

Por isso eu reforço cada vez mais a espiritualidade como uma forma de a gente ver, entender o mundo e viver melhor.

Espiritualidade vai além de ser a forma como as pessoas se relacionam com o sagrado. Só nesse âmbito entra a religião, mas não vou abordar isso aqui. Religião é UMA forma de se viver a nossa espiritualidade, e nesse aspecto cada um sabe o melhor para si.

A questão que quero trazer neste texto é que a espiritualidade está em nós, e pode ser uma poderosa aliada para o nosso dia a dia.

Trabalho e Espiritualidade

Longe de qualquer antagonismo, a relação entre trabalho e espiritualidade é cheia de sentido e valor.

Há hoje um grande movimento de pessoas que deixam seus trabalhos e até mudam de carreira, mudam seu estilo de vida e seus hábitos em busca de um trabalho com propósito, algo que dê mais sentido às horas trabalhadas e às suas vidas.

Há pessoas que vivem períodos sabáticos em busca de descobrir uma forma melhor de empregar o seu tempo e suas habilidades numa direção mais alinhada com um desejo que há no seu interior.

Isso acontece porque hoje nós temos uma percepção e uma relação diferentes em relação ao trabalho. O trabalho não é apenas o ganha-pão, mas a tradução concreta dos nossos valores e ideais em ações, o que produz a nossa obra e dá sentido de vida à nossa existência.

Esta busca constante por propósito no trabalho, permite que o homem se enxergue naquilo que faz, ou seja, no resultado de sua obra. Quando isso acontece, conseguimos “nos encontrar naquilo que fazemos” e atingir o “flow” no trabalho.

É aqui que vejo um erro comum: as pessoas cada vez mais buscam sentido para suas vidas em livros, no seu trabalho, nas palavras de outras pessoas, e esquecem de buscar dentro de si, porque tem pouca ou nenhuma experiência de autoconhecimento, de espiritualidade.

Mas, como encontrar sentido no trabalho, sem encontrá-lo antes na vida? Quem encontra sua identidade mais profunda, seu propósito, olhando para dentro de si, não precisa correr atrás disso no trabalho.

Aqui recordo um pensamento de Mário Sérgio Cortella, encontrado no livro “Qual é a tua Obra?”:

“A espiritualidade é a resposta a um desejo forte de a vida ter sentido, de ela não se esgotar nem naquele momento, nem naquele trabalho”.

Nós temos em nós um desejo de infinitude e perfeição. Queremos deixar algo para a posteridade e alcançarmos o mais alto nível naquilo que fazemos.

Espiritualidade nos ajuda a viver no trabalho, ou seja, traduzida naquilo que fazemos, o que disse Oprah Winfrey: “(…) a expressão mais verdadeira, mais ‘alta’ e mais pura de si mesmo”.

Quando encontramos esse “flow” entre trabalho e espiritualidade, conseguimos dar um novo sentido à nossa vida profissional a partir da compreensão que o trabalho, independentemente do cargo que exerçamos, tem um significado, um propósito, com impacto direto na vida de outras pessoas, sejam elas colegas de trabalho, fornecedores ou os clientes.

A espiritualidade nos ajudando no dia a dia

A vida não é uma jornada fácil. Quantas vezes nos encontramos em busca de um momento de paz, de desacelerar um pouco e respirarmos para continuar?

O ritmo – muitas vezes frenético – em que vivemos, às vezes não nos permite viver em equilíbrio entre todas as esferas da nossa vida.

Nós temos medo de perder alguma coisa (FOMO), pensamos de mais no amanhã (síndrome do pensamento acelerado), muitos sequer conseguem viver o momento presente sem a ansiedade por um momento futuro.

Estamos vivendo na sociedade do cansaço, onde somos cada vez mais “encorajados” por mensagens meramente motivacionais e de autoajuda – sem a devida profundidade do autoconhecimento – e vamos nos cobrando cada vez mais por resultados e nos tornando “carrascos” das nossas próprias ações.

Nesse cenário de “burnouts”, estresse e correria, se faz ainda mais importante o papel da espiritualidade como uma “janela” para nos “desconectarmos” por um momento das realidades exteriores e nos conectarmos interiormente.

Então quando nós não desprezamos a espiritualidade, mas ao invés disso, buscamos exercitá-la, nós vamos trilhando a vida com um outro olhar para o mundo, para o outro e para nós mesmos. Vamos redescobrindo a nossa alma, nossos valores, o sentido da vida, aquilo que está no nosso interior e vamos agindo de forma cada vez mais consciente daquilo que somos.

Nossa capacidade de entender o outro melhora, alimentamos menos os sentimentos negativos que estão em nós e desenvolvemos a autoconsciência. Isso nos proporciona mais serenidade, mais liberdade interior e uma sensação de completude, de ter uma vida mais equilibrada em todas as esferas.

A espiritualidade não nos aliena da realidade. Não nos transporta a um nível transcendental onde caminhamos por campos de trigo e tudo é paz, luz e calmaria, isso é tolice.

Mas inserir em nossa rotina, momentos dedicados às práticas espirituais, sem dúvida é uma atitude que pode mudar o nosso dia. Eu já vi isso acontecer diversas vezes.

Eu espero que esse artigo seja útil pra você que busca o autoconhecimento, o desenvolvimento pessoal e um “empurrãozinho” para iniciar algum hábito voltado ao assunto.

Encerro com um pensamento de Mário Sérgio Cortella que ilustra bem a importância da espiritualidade no nosso dia a dia:

A espiritualidade dá sentido à vida. Nos ajuda a enxergar beleza na existência. Isso não significa uma vida sem dificuldades, mas entender que apesar de tudo, vale a pena viver.

Vou adorar saber sua opinião sobre o assunto aqui nos comentários.

Ah, conhece alguém que se interessa por espiritualidade? Compartilhe o artigo e me ajuda a trazer mais gente para essa conversa!

Você pode também ler e compartilhar este texto no LinkedIn!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *